quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Como foi criado o Vaticano?

Em setembro de 1870, quando as tropas de Vittorio Emanuelle II, proclamado rei da recém-unificada Itália, subjugaram e anexaram a cidade de Roma, o papa Pio IX enclausurou-se nos muros do Vaticano. A essa altura, o Risorgimento (ressurgimento) italiano já havia tomado a maioria dos estados papais, e o pontífice, para não se submeter à nova ordem política, rompeu relações com a monarquia e declarou-se um prisioneiro do poder laico. O mal-estar entre o estado e a Igreja finalmente chegou ao fim em fevereiro deste ano, quando o papa Pio XI e o ditador fascista Benito Mussolini, assinaram o Tratado e o Concordato de Latrão, que determinaram a criação do estado soberano do Vaticano, reconheceram o catolicismo como religião oficial da Itália e ainda garantiram à Santa Sé uma polpuda compensação financeira pelas anexações dos rincões papais. Livre depois de quase seis décadas, é o Santo Padre que agora se esbalda com seus poderes de chefe-de-estado, literalmente mandando prender e mandando soltar dentro do Vaticano.
Com a garantia da indenização da administração italiana, de 750 milhões de liras, à vista, e de um bilhão de liras em títulos do governo, o chefe da Santa Sé começou a estruturar uma respeitável aparelhagem estatal. Já existia um diário oficial, o L’Osservatore Romano, e Pio XI, de acordo com seus assessores próximos, planejou estruturar uma rádio oficial para alardear o cristianismo e, claro, a palavra papal. O maior candidato para tocar a empreitada é Guglielmo Marconi. Circulava a moeda corrente do Vaticano, a lira vaticana, com a efígie do sumo pontífice, também aceita na Itália e que tinha valor parelho ao da lira italiana. O serviço postal do Vaticano foi inaugurado. Já o Corpo da Gendarmaria Pontifícia e o Corpo da Guarda do Papa, com suas coloridas fardas desenhadas por Michelangelo, ganharam ainda mais liberdade dentro do Vaticano para assegurar a proteção do agora chefe de estado Pio XI.
Para completar, foi promulgada a Lei Fundamental do Estado do Vaticano, que deu ao sucessor de São Pedro a plenitude dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário no enclave de 0,44 km2 ao norte de Roma e em mais doze edifícios espalhados pela cidade, incluindo o Palácio de Castelgandolfo. Os bens da Santa Sé, sua administração, a biblioteca, o arquivo, a livraria e a tipografia do Vaticano também estavam diretamente subordinados à vontade do pontífice. Tal lei criou a figura do governador, que pode criar regras para a ordem pública na cidade-estado, com a aprovação do Conselho. Porém, a escolha do governador era exclusiva do papa, e podia por ele ser revogada a qualquer momento. Qualquer semelhança com os plenos poderes de Mussolini não era mera coincidência – ao menos para os cartunistas locais, que não se cansavam de produzir caricaturas retratando Pio XI envergando a camisa negra do fascismo e o Duce com a tiara papal em sua careca.



OBS.: Peço desculpa pelo atraso, devido a correria da faculdade, as matérias atrasaram um pouco, mas se tudo correr bem, voltará ao normal.


Por Cassiano

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